Café Científico aborda mecanismos para uma pedagogia antirracista 

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Café Científico aborda mecanismos para uma pedagogia antirracista 

Café Científico aborda mecanismos para uma pedagogia antirracista 


A busca por mecanismos antirracistas que possam ser usados na educação pública e a abordagem de ações racistas dentro da escola e das produções acadêmicas e culturais no Brasil estiveram no centro da palestra feita pela doutora em Educação, Eliane Cavalleiro, durante mais uma edição do Café Científico realizado pelo Programa Oguntec, no Colégio Estadual Nelson Mandela, no bairro de Periperi, em Salvador, no dia 03 de outubro, com a mediação da professora e diretora da unidade, Olívia Costa.  

Durante a conversa com professores, a doutora destacou a importância de pensar no racismo como um problema social coletivo e de Estado, contudo, não tem tido o sucesso esperado. “Não se trata de uma coisa minha, Eliane, da professora Simone, da professora Olívia ou de nós do Oguntec, mas um problema social do país, do Estado que se comprometeu a combater a desigualdades desde a nossa Constituição Federal e mais recentemente, a partir do compromisso estabelecido pela carta de compromisso da 3ª Conferência Mundial de Combate ao Racismo, de Durban, em 2001, e que entre outra política, originou a Lei 10.639, a primeira lei aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma políticas de ações afirmativas com a perspectiva de combater o racismo no ensino”, destacou. 

Para Eliane, a conquista foi possível pela pressão dos movimentos negro e social e pela adesão do país a diretrizes internacionais. “Não podemos atribuir a conquista de uma legislação a bondade de um governo que quer implementar ações afirmativas e de promulgar uma lei de combate ao racismo, mas por conta do Estado está atendendo também às normativas internacionais e, é importante reforçar, também, que era uma luta já trazida pelos movimentos negros no Brasil”. 

 

   Foto: Ascom Steve Biko

A coordenadora pedagógica do Programa Oguntec, Cristina Santos, afirmou que o Café Científico foi pensado para trazer discussões importantes para a escola e falar sobre Educação antirracista é central para melhorar a educação pública na Bahia no quesito da inclusão, valorização e pertencimento racial. "A educação antirracista é o passo para a transformação da sociedade, das mentalidades forjadas em um ensino marcadamente eurocentrico. O Café Científico torna possível a formação de professores, a articulação entre gestão e docências nas mais variadas áreas do conhecimento. Nesse sentido, a mesa foi composta por duas mulheres negras, Olivia Costa, diretora da unidade escolar, que já vem desenvolvendo um trabalho relevante, e  Eliane Cavalleiro, doutora  e coordenadora geral do Programa Oguntec, que traz esse olhar das infâncias, do diálogo entre as literaturas e as leis de fomento a reparação racial. Uma mesa dialógica fundamental nessa caminhada por um currículo educacional decolonial”, destacou a pedagoga. 

Para a mediadora do evento, a professora e diretora do Colégio Nelson Mandela, Olívia Costa, fala da importância da escola para transformar a realidades das comunidades e da juventude negra por meio de projetos na escola, a exemplo do Projeto Aláfia, que visibiliza a questão da luta por Educação e Cidadania. “A escola tem grande importância na formação social e humanística dos estudantes e podemos auxiliar na trajetória profissional, além de formar cidadãos e cidadãs conscientes do seu papel na sociedade”. 

De acordo com a professora de Matemática, Gabriela Batista, o Café Científico lhe proporcionou uma experiência enriquecedora e necessária nos dias atuais. “Eu achei a experiência de hoje muito enriquecedora e necessária, porque, apesar de ser um tema que a gente está discutindo há muito tempo, muitas pessoas ainda não sabem o que isso quer dizer ou trata de uma maneira muito superficial. Então, nas aulas de matemática, a gente pode aprofundar mais nesse tema e a gente pode refletir de qual forma a gente pode aplicar isso na sala de aula. Na minha matéria, eu acho que a gente pode aplicar esses conhecimentos resgatando as normas de onde veio a matemática. A matemática, ela também é africana, certo?”, questionou a professora que teve sua primeira experiência com o Programa Oguntec.

A professora de história, Alane Carvalho, ressaltou a importância dos conhecimentos de Eliane Cavalleiro no combate ao racismo na Educação. “É sempre um privilégio estar aprendendo a pensar na educação étnico-racial. É você pensar para além da educação, pensar não para uma educação institucionalizada, mas dentro da gestão da escola. E eu saio daqui em renovada, dentro da minha prática pedagógica. Na condição de historiadora, eu costumo trabalhar no cotidiano esses elementos, mas nossa professora [Eliane Cavalleiro] sempre vai trazer na sua releitura, elementos novos dentro da prática docente, o que faz com que fique mais enriquecida essa prática”, disse a historiadora. 

 

Fotos: Ascom Steve Biko

“Vale ressaltar também que esses encontros precisam ser alimentados. Pensar no racismo estrutural é pensar em algo que precisa ser combatido cotidianamente. Nós não podemos ser apenas não racistas, precisamos ser antirracistas. A nossa escola é pioneira aqui em Salvador, pois trabalhamos numa perspectiva da cultura e da educação antirracista, temos o exemplo do programa Aláfia, que tem mais de cinco anos e está dentro da reconstrução da escola como um ambiente antirracista”, finalizou Alane.

De acordo com a diretora Olívia Costa, as disciplinas da escola estão sendo planejadas de forma integrada, trabalhando questões como racismo estrutural, a valorização da cultura africana, o resgate da identidade e a valorização da estética negra vem sendo trabalhadas ao longo do ano letivo.

O Café Científico também teve a participação ativa do coordenador de Tecnologias Educacionais, Paulo Mendes, e da assistente pedagógica, Luana Lopes, que, juntamente com a coordenação pedagógica, têm contribuído para a riqueza de ações desenvolvidas pelo Programa Oguntec nas escolas estaduais parceiras.



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